domingo, 4 de dezembro de 2011


SOCORRO! ELE MORREU!!!

Em uma cidade os casarios, as ruas, as praças fazem parte da vida e da história de cada um dos seus habitantes. Pão de Açúcar, por ser tão peculiar e inusitada desde sempre se destacou por sua cultura, sua música, sua poesia. E não podia ser diferente, afinal até o seu nome tem poesia e narra um amor não correspondido: Jaciobá que significa espelho da lua.A Lua namorando o espelho d’água do rio São Francisco;

E nos reportamos ao falar em história ao hospital do SESP,o nosso hospital, como ficou conhecido nacionalmente e hoje traz o nome de quem muito se dedicou ao seu crescimento e bom funcionamento. Este prédio que faz parte da história da nossa cidade viu passar por suas portas fatos que ficaram registrados no cancioneiro popular. Neste hospital os melhores médicos da Fundação Nacional de Saúde marcaram presença e os estagiários da UFAL adquiriram sua prática na sala de emergência e nas cirurgias memoráveis em um centro cirúrgico simples, mas rico de experiências.Neste hospital vi meu pai resistir a um edema pulmonar assistido por Dr.Heitor Moreira de Albuquerque e uma equipe de enfermagem que se destacava pela sua eficiência e educação.Nessa época os funcionários eram exemplo e seguiam a risca os princípios preconizados pelas normas vigentes. Era um templo sagrado da saúde! Silêncio nos corredores, limpeza absoluta a se refletir nos uniformes impecáveis. Cresci vendo esse hospital ser uma referencia na saúde e ponto de encontro das crianças que passavam os finais de tarde a se balançar nos balanços do parquinho infantil e dos adolescentes que vinham namorar nos seus jardins. Ele comportava tudo! Nesse hospital nasceu meu filho e na época eu poderia ter escolhido um centro médico que oferecesse mais conforto, mas fiz a opção de ter ao meu lado médicos como o meu obstetra Dr. Djalma Gonçalves e Dr. Edilson Teodoro de Melo Castro como anestesista, além de enfermeiras como Emília, Cosete, Aparecida Almeida além do pessoal da limpeza e cozinha representados por Maria Odete e Ivone

Nesse hospital aconteceram crimes horrendos em sua entrada e vi minha amiga ficar viúva por excesso de medo dos funcionários que fecharam a porta tarde da noite e não conseguiram abrir , apavorados.

Nossa vida desenvolveu-se nas visitas ao hospital e no bom atendimento recebido. Nesse hospital vi meu pai morrer assistido por médicos competentes e dedicados como Dr. Eraldo Loureiro e Edson Moura e sou muito grata pelo carinho recebido naquele momento de dor. Mas, nesse hospital tive a felicidade de assistir ao nascimento do meu neto. Não era mais aquele hospital que nós nos orgulhávamos tanto ,mas era o nosso hospital.As pessoas não o citavam mais como referencia mas era nosso e nós a amávamos.

Esse hospital também viu a minha mãe partir...

Quando o filho do meu médico, o meu amigo e compadre assumiu a direção do hospital julguei que nós pãodeaçucarenses estaríamos em boas mãos e a nossa saúde com certeza iria estar em busca de melhores dias, mas ledo engano! O meu amigo e compadre não se revelou como gestor de saúde pública, apesar de ser um bom médico, competente e preciso em seus diagnósticos. Mas eu ainda estava a crer que como gestor municipal e médico com certeza poderíamos ter uma saúde de qualidade.E melhores dias viriam...Mais um engano grasso.

Meu Deus! Ao ler na comunidade Eu conheço Rogério Lima o tópico referente ao fechamento do hospital não quis acreditar. Pus o telefone para funcionar e liguei para os meus amigos, mas a noite constatei com tristeza a veracidade da informação: os pacientes foram enviados para outros hospitais e os que estavam apresentando melhoras foram enviados para suas casas.Entrei em pânico: o que seria das pessoas pobres da nossa cidade que não possuem planos de saúde nem dinheiro para enfrentar uma viagem e o atendimento em uma cidade estranha?

Com a idade vamos- nos dedicando a filosofar e buscamos a sabedoria e aprendemos com ceticismo que o poder modifica o caráter das pessoas e o juramento feito não tem valor quando se fala em $$$.Quantos médicos querem nos representar como chefes municipais?Quantos estão se propondo a salvar o hospital em um momento que ele estava agonizando? Um plantão em uma noite de sábado para quem quer ser reconhecido por uma cidade seria de assaz importância no currículo político de um médico e o nosso gestor deixaria o conforto de sua fazenda e assumiria os plantões de final de semana até o hospital sair da UTI.È preciso às vezes sair da egocentricismo que vivemos e dar mais do que nos propomos.É investir no futuro.Mas nenhum dos futuros candidatos resolveu abrir mão das suas tabelas honorárias e se dispôs a dar uma injeção no moribundo.

E agora, quem deixou o hospital morrer?


Marcia Telma