quinta-feira, 30 de maio de 2013

LAIKA


Ela chegou a nossas vidas como um presente ao meu neto, que no momento vivia um momento difícil, dado aos problemas conjugais que os pais estavam atravessando..Era uma bolinha de pelúcia quando fomos buscá-la no mês de setembro em casa de Isis. Ela chorava a noite inteira...E ele ficou encantado,queria brincar e colocá-la no colo o tempo inteiro.Deu-lhe o nome de Laika em homenagem a cadela do meu irmão que havia morrido.

Quando chegamos em nossa cidade a minha nora ficou brava! Alegou não haver sido consultada e que não dispunha de tempo para cuidar de um cachorro.Mas ela não deu bolas.Começou a dominar a casa, estabelecer o seu domínio e à noite ficava embaixo da cadeira de balanço de minha mãe enquanto ela fazia o seu crochê e assistia suas novelas.

Eu nunca gostei de cachorros... Tinha verdadeiro pavor, motivado esse por um acontecimento trágico na minha infância: estava aqui em Maceió, quando a minha mãe recebeu a notícia que a filha de D. Deleusa  Marques dos Anjos uma das suas melhores amigas, havia morrido.Rosa Maria, morreu aos 5 anos de idade, morte esta ocasionada por uma mordida de cachorro. Cachorro este que pertencia a família do Sr.Roberto Alvim. A partir desse dia, eu fiquei odiando os cachorros.Não entrava em nenhuma casa se soubesse  da existência de um cachorro.Até de um filhote.Só que quando cresci descobri a verdade  sobre a morte de Rosinha.Foi uma injeção aplicada no local errado.Mais uma fatalidade.

Quando morávamos (eu e meu filho ) numa casa antiga, enorme que ia de uma rua a outra, ele achou que deveria ter um cachorro.Relutante concordei com a chegada de Pitucha.Ela ao crescer fez do enorme quintal o seu habitat e como sempre cabem as mães a responsabilidade, eu tinha que lhe dar banho e preparar sua comida. Mas ela não podia pular nas minhas pernas, nem me lamber.Mesmo assim foi doloroso precisar doá-la quando nos mudamos para a casa da minha mãe.

Mas Laika me forçava a fazer o que nunca pensei: todas as noites saia a passear com ela.Como brincava nas praças arborizadas de Pão de Açúcar. E quando levávamos para o popular banho de rio, era uma festa. Espaçosa, brincava com as pessoas, e corria tanto pela areia que o meu neto se via louco.Só havia uma coisa que me desagradava: que ela entrasse no meu quarto.Quando por uma rápida distração deixava a porta do quarto aberta ela vingava-se:: fazia xixi na minha cama bem no lugar que gostava de dormir.


Da minha mãe tornou-se a companhia constante, que mesmo quando minha nora foi morar em sua própria casa, ela ficou conosco.

A minha prima Lila ( Lilian Tavares) passava em nossa casa todas as tardes para visitar mamãe.Mas desconfio que era para brincar com Laika que sujava sua roupa.E uma calça branca, então... No dia em que que morreu ( 06 de junho) Laika correu pela casa procurando o que não sabíamos ainda.

Um ano depois minha mãe também se foi.....A minha preocupação era de longe orientar a moça que trabalhava conosco para prende-la fora de casa.Ao chegar, não sei quem chorava mais...Eu ou ela isolada no quintal.Ao voltarmos do sepultamento ela pode ter enfim acesso a casa.Procurou a minha mãe em todos os cômodos até que se refugiou debaixo da cadeira preferida.

De repente passamos a sofrer com os acontecimentos e eu me vi com prazo para entregar a casa. Para onde levar Laika? Se eu mesma não tinha nada definido.A minha nora achou uma pessoa que queria adotá-la.Foi muito doloroso vê-la partir.Quem a adotou não quis a responsabilidade e levaram para o interior.Decorridos  uns 6 meses, estava eu a ruminar na horinha do crepúsculo quando ela chegou ofegante.Abri o portão e a alegria demonstrada excedeu tudo o que eu pensava.Fui rápida comprar a ração e minha nora a limpou como pode devido a hora e eu prometi a mim mesma não deixá-la separar-se mais da sua  família humana.
Quando entregamos a casa, minha nora a levou para sua casa. E eu fiquei só...Mas quando chegava lá era uma alegria.Infelizmente Laika sentia falta de sua antiga casa e logo depois engravidou.Essa gravidez extinguiu a sua vida.


Só hoje,é que sei a lição que ela nos deixou: o amor incondicional à família, a alegria e o bom-humor.Como os cachorros tem alma decerto encontrou a minha mãe.Até breve, Laika.....

quarta-feira, 29 de maio de 2013

DES-PE-DA-ÇA-DA

Tentando tirar você de mim
Que era o sol dos meus dias
Sonhos e projetos sem fim.
Dava-me tudo: carinho, amor.
E uma dedicação sem par.
Sua voz amiga me guiava
E o meu dia era povoado
De sonhos, música e poesia.
Como posso lhe esquecer
Se meu telefone está mudo
E fico esperando ouvir sua voz.
Como tirar você de mim?
Como estou me sentindo?
DES-PE-DA-ÇA-DA

Marcia Telma

...



A gratidão e a amizade






     Há vários dias que reflito sobre essa passagem bíblica narrada por Jesus em haver curado 10 leprosos e só um haver voltado para agradecer.Na nossa vida esquecemos de praticar e exercer a gratidão.Quantos de nós volta para agradecer um gesto de amor, um carinho, um afago ou até uma palavra amiga?



(Lucas,17,11)

    Domingo passado em meio a dores fortes que me torturavam recebi um telefonema que muito me emocionou...

   A decisão de ser só é muito decisiva na vida de uma pessoa. Eu decidi ser só. Com os meus medos, minhas imperfeições, minhas manias... A principio havia o meu filho e posteriormente passamos a morar com a minha mãe. Mas os filhos nascem de nós, mas não são nossos já dizia o poeta. Têm suas vidas, seu presente pulsante para construir .E um dia o meu filho seguiu o seu destino formou uma família e hoje mora em uma cidade onde os recursos médicos são precários.Ficamos mais uma vez juntas eu e minha mãe, caminhando nossos passos e procurando viver o que a vida tinha nos reservado.Só que como tudo na vida há um fim, por mais bela que seja a história e os elos de amor.

    De repente me vi sem chão... Sem casa, sem ter para onde voltar e precisando aprender a só ser. É um processo de difícil construção, doloroso, lento e inexorável, mas o que fazer? Era como se eu estivesse andando nos barcos de S. Dú na festa de natal quando criança e este subiam no seu balanço de vaivém e de repente desciam vertiginosamente, sem controle e sem timoneiro.Queda livre rumo ao desconhecido.

    Sobrevivente e com as feridas curadas aprendendo no dia a dia o preço e o valor da solidão que passou a sozinhez.Aprender a esquecer os “amigos” que se afastam e conviver comigo mesma.A caminhar passo por passo sem esperar o que não se compra.Mas,restava passar por mais um processo doloroso.Eu que havia enfrentado um câncer em 2004, com êxito e me sentia ótima descubro um nódulo na traqueia.

    E agora? O que fazer? Para quem já enfrentou ou lidou com um portador de câncer, sabe da importância do amor, da família, dos amigos... Mas todos já se foram... Resolvi desistir. O outro eu venci porque tinha uma mãe que não desistiu de mim.E uma tia-mãe que era o nosso suporte.Eu tinha uma família pequena mas que me amavam e juntos lutamos e enfrentamos a batalha.

  E domingo acometida por uma virose, recebi um telefonema de uma amiga, Lucia dos Anjos, que mora em Aracajú.

   Lucia é uma pessoa muito especial, que pelas tragédias enfrentadas em sua vida poderia ser uma pessoa amarga, depressiva e intolerante. Não... é alegre, bem humorada,trabalhadora e transmite muita paz e confiança.Também por situações inesperadas mora só.Mas recomeçou a vida com muita dignidade e honradez e hoje é uma comerciante bem sucedida.Mas retomando ao telefonema ela me fez um convite inesperado: Ir ficar com ela, o tempo necessário para dar início ao tratamento vez que sabe a necessidade de se ter alguém ao lado em determinados procedimentos.Do acompanhamento, de uma mão amiga para nos ajudar na caminhada, de uma palavra de incentivo e carinho.

   A emoção me dominou e eu que normalmente já sou uma manteiga derretida, fiquei sem palavras. Dentre tantos que se dizem amigos só uma demonstrou generosidade e disposição para enfrentar uma nova luta.A mala está pronta e assim que regularizar as contas mensais estarei a caminho de Aracajú.

   Amigos verdadeiros possuem o dom de retirar da vida o que há de melhor e transformar nossas miudezas diárias em acontecimentos que nos transformam e nos fazem acreditar que dias melhores virão.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Gestos de afeto...Abraços...


                                                
                                           

Nós hoje estamos a receber palavras entusiasmadas sobre o abraço,afinal, é o dia do abraço. Mas será que já nos pusemos a refletir sobre a importância de um gesto de afeto e de ternura?

Quem já abraçou hoje? Não virtualmente, mas um abraço caloroso, recheado de afeto e ternura. Ultimamente com a correria do dia à dia não temos tempo para abraçar as pessoas, e muitas vezes nem em  nosso próprio ambiente familiar.Que pessoa amada você abraçou hoje? E as pessoas que trabalham no seu dia? O jardineiro, o porteiro, a faxineira, ou mesmo as nossas cozinheiras?É tão difícil um gesto de afeto com aqueles que nos servem. É como se eles fizessem parte da paisagem que nos cerca.

Muitas e muitas vezes cruzamos com as pessoas amigas ou conhecidas e na correria que move o mundo nós dizemos: um beijo bem grande no coração, ou um abraço, meu amigo e retomamos a nossa correria. Não temos tempo a perder em um gesto de afeto e carinho.

Quando perguntamos tudo bem não queremos ouvir a resposta, a outra, a real,pois não temos tempo, e só queremos que o outro responda tudo bem, estou ótimo.Isso reflete como estamos vivendo, como nós nos comportamos.Não há tempo a perder em ouvir os queixumes do outro.Um telefonema sem ser para tratar de negócios ou resolver problemas ou mesmo agendar um compromisso sim, para eles há tempo. Não há tempo para aquela pessoa que está longe dos nossos olhos,longe do nosso cotidiano.

Então porque não sermos um pouquinho diferentes do habitual e não comemorarmos o dia do abraço, mas fazer de cada dia de nossas vidas um dia de abraços.Vamos abraçar uma pessoa diferente por dia.Vamos abraçar os nossos pais, os nossos filhos, os nossos irmãos.Vamos fazer a diferença em um mundo onde impera a indiferença, o ódio e a violência.Vamos nos permitir abraçar uma pessoa carente de afeto e atenção.

Não devemos guardar os nossos belos discursos para quando essas pessoas se forem e precisarmos escrever em seus túmulos o que nunca ousamos dizer. O momento é agora.

domingo, 12 de maio de 2013

Desconvidar???




Hoje estou escrevendo sobre algo que fiquei ruminando por vários dias e sem encontrar palavras adequadas para descrever determinadas situações que me vejo envolvida.

            Tenho poucos e raros amigos... Mas os poucos que tenho procuro conservar bem dentro de mim, em um local muito especial, acreditando que,quem tem um amigo possui um tesouro.E como os meus tesouros são raros, tenho uma dedicação muito exclusiva .

            Pois bem, tenho uma amiga maravilhosa, companheira, confidente, generosa a quem devo muitas atenções a atos de amor. Depois que descobri que estava doente, ela esteve ao meu lado dando-me a maior força e me apoiando nas decisões tomadas. É uma verdadeira amiga. Desde janeiro que me telefona convidando-me para ir passar uns dias em sua casa, entretanto as pedras no caminho, dificuldades e desencontros compromissos assumidos anteriormente me levaram a adiar a viagem. No mês passado, após muita insistência concordei em ir, vez que se prontificava a vir me buscar.
            E com a mesma insistência que requeria a minha presença, ela telefonou desconvidando. A filha queria ir à mesma data com sua chefe e não havia como negar tal pedido. Até então eu desconhecia essa palavra.E eu perguntei:

“Está me desconvidando?”

“Ao que ela retrucou:” como dizer não a chefe da minha filha? “Você é minha amiga decerto vai me entender. Que tal se você viesse e quando a visita chegasse eu a levasse para casa de sua conterrânea?

“Não se preocupe, estou bem” e tudo tem o seu tempo... E não sou um pacote, para me mandar sair para outra casa”Afinal a minha amiga não me convidou e não tem tempo disponível para receber visitas,pois trabalha muito.

Certo dia ela telefona muito desapontada que a chefe que havia se convidado para ser sua hóspede havia desistido.E que seria ótimo se eu fosse...Tudo estava preparado: Gastara todas as suas economias para receber a chefe.Comida pronta  já congelada, polpas variadas e sobremesas das mais variadas espécies.Prataria polida, pratos de porcelana desentocados e casa limpa, reluzente. 


Fiquei pasma com a situação que se apresentou até hilária aos meus olhos.Noites de inquietação associadas ao nervoso de receber uma visitante tão ilustre que não se dignou dar um simples telefonema para pedir uma desculpa: que a mãe havia feito uma extração na unha do pé...

 Aprendi a lição, pois as pessoas por mais que a amemos são falíveis e não são perfeitas... No meu vocabulário mais uma palavra: Desconvidar.