terça-feira, 16 de abril de 2013

O GRAVADOR DE VAVÁ


                     O GRAVADOR DE VAVÁ


Há várias dias que reflito sobre a solidão...E na necessidade que as pessoas sentem de alguém que se preocupe com elas, seja através de um telefonema ou um simples SMS.E lembrei de Napoleão Brandão, o meu compadre Vavá que com sua voz tonitruante cantava uma música, quando eu era criança, de Vicente Celestino...O Ébrio.. e gostava também de cantar Porta Aberta..Muitas vezes ás pessoas se veem no mundo sem família, sem um amigo, sem ter com quem compartilhar uma alegria, um problema e precisam encontrar uma porta aberta...

            E lembrando de Vavá mergulhei mais nas lembranças e me vejo menininha,admirando as serestas, as vozes bonitas os instrumentos bem tocados...Ele um inveterado boêmio,amava uma boa farra onde podia dar vazão aos sentimentos de um artista que só se realiza fazendo o que gosta...Um luar, um violão e uma boa bebida para refrescar a garganta.

Certo dia ele entrou em casa e nos mostrou um gravador... Fiquei impressionada. Queria gravar, ouvir minha voz nas poesias que declamava e me pus a declamar A Louca de Albano. Mãe Tina queria cantar também a sua Súplica...Cosete também soltou a sua voz, cantando Saudade.. Canção de Amo.E entre toda aquela alegria ele nos mostrou uma fita que havia gravado na casa de D. Virginia .

D. Virginia Rego era uma senhora de uma educação esmerada, devoradora de romances, principalmente os de M. Delly e que apreciava as coisas boas da vida.Dona de um hotel recebia todos os seus hóspedes como se fossem amigos de longa data ou parentes muito próximos.Gostava de tocar violão e receber os seus amigos seresteiros.S.Edson Matias não perdia a ocasião de compartilhar esses bons momentos, mesmo contando com as dificuldades de deixar a sua cidade.Caboclinho que dividia o seu tempo entre seus afazeres no Jacarezinho, em São Brás e com a família em Penedo e também era possuidor de uma voz encantadora e João de Santa, comerciante em nossa cidade, com seu estabelecimento no Beco dos Machado e que gostava tanto de música, que na hora que não havia movimento se punha a tocar o seu cavaquinho.



E nos pusemos a ouvir a fita.A princípio era o cavaquinho de João de Santa, pai do nosso amigo Érico Abreu, acompanhado pelos acordes maviosos do violão de caboclinho, tocando uma música de Waldir Azevedo. Depois começaram a tocar uma música, muito tocada nas rádios interpretada por Ângela Maria e uma voz amiga se fez ouvir; era uma música que falava:

Essa noite eu chorei tanto 

Sozinha sem um bem 
De amor todo mundo chora 
Um amor todo mundo tem 
Eu porém vivo sozinha 
Muito triste sem ninguém

Será que sou feia? 
 Não, não, não... 
Então eu sou linda? 
- Você é um amor.

Responda então por que razão 

Eu vivo só sem ter um bem? 
- Você tem o destino da lua 
que a todos encanta e não é de ninguém.


Ao cantar à penúltima estrofe da música a cantora improvisada perguntou: “ Será que eu sou feia”? Só que o meu compadre Vavá, inteligente e espirituoso como só ele sabia ser, ao ouvir o queixume da cantora respondeu de imediato  :
-Você é um horror...
O nome de nossa amiga, que é uma pessoa maravilhosa e envolvente não me cabe revelar... Nem as paredes, confesso...


2 comentários:

VOLNEY DA SILVA AMARAL disse...

As músicas de Vicente Celestino e Ângela Maria são verdadeiramente parte da trilha sonora de minha tenra infância, Márcia. Excelente registro. Valeu.

Unknown disse...

Simplesmente ARRETADO!!!!