domingo, 22 de agosto de 2010

Precisa-se


Sendo este um jornal por excelência, e por excelência dos precisa-se e oferece-se, vou pôr um anúncio em negrito:

Precisa-se de alguém homem ou mulher que ajude uma pessoa a ficar contente porque esta está tão contente que não pode ficar sozinha com a alegria, e precisa reparti-la.

Paga-se extraordinariamente bem: minuto por minuto paga-se com a própria alegria.

É urgente pois a alegria dessa pessoa é fugaz como estrelas cadentes, que até parece que só se as viu depois que tombaram; precisa-se urgente antes da noite cair porque a noite é muito perigosa e nenhuma ajuda é possível e fica tarde demais.

Essa pessoa que atenda ao anúncio só tem folga depois que passa o horror do domingo que fere. Não faz mal que venha uma pessoa triste porque a alegria que se dá é tão grande que se tem que a repartir antes que se transforme em drama.

Implora-se também que venha, implora-se com a humildade da alegria-sem-motivo. Em troca oferece-se também uma casa com todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos.

Dá-se o direito de dispor da copa e da cozinha, e da sala de estar.
P.S. Não se precisa de prática. E se pede desculpa por estar num anúncio a dilacerar os outros.

Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina para dar.
Clarice Lispector

MEU POEMA É UM CANTO DE GUERRA



Meu poema é da guerra
Que travei em mim por você.
Guerra a meiguice, a ternura,
Ao amor, a vida, a felicidade
E a ventura amados por você.
E sendo assim ele será um pranto.



Meu poema é da guerra
Travada por você para mim.
Guerra ao ódio, a morte, a tristeza
Ao desespero, ao vazio, a incerteza
Odiados por você.
E sendo assim ele será um canto.



Marcia Telma

Um mundo sem você



Vi... Um mundo... Uma cidade... Uma garota
Um mundo vazio... Uma cidade sem sol...
Uma garota sem risos
Um carnaval sem calor
Um carnaval sem sabor
Um carnaval sem amor.

E você chegou
Ficou...
Sambou...
Cativou...


E no carnaval houve calor...
Sabor...
Amor...

A cidade floriu...
O mundo surgiu...
A garota sorriu...

Vejo um mundo... Uma cidade...uma garota
Um mundo cheio de outros mundos
Uma cidade florida, Aalegre, festiva.
Uma garota feliz, sem lágrimas, sem dor.
Um mundo, uma cidade, uma garota
Uma garota mulher e você.
Verei... Um mundo sem você...
Uma cidade triste
Uma mulher sem vida, sem amor, sem sonhos
Uma mulher sem você...

Uma mulher que amou e foi amada
Que cativou e foi cativada.
Um dia viu-o partir
E na partida disse adeus
E no adeus foi sua própria vida.

Marcia Telma

sábado, 21 de agosto de 2010


MINHA VIDA EM SUAS MÃOS

Minha vida em suas mãos, meu amor,
O presente desejado, nunca antes fabricado
Eu ponho em suas mãos.Retenha
Com um gesto, um sorriso, uma carícia
A minha vida em sua vida.

Minha vida em suas mãos, meu amor
Desejos, ideais, sonhos e crenças
O meu destino com as esperanças
As minhas lágrimas,os sorrisos e as alegrias
Ofertadas por você...estão em suas mãos.

Minha vida em suas mãos, meu amor,
O meu mundo colorido,meu paraíso encantado
Deixo em suas mãos. E o que vai partir
Nãoé minha vida, meu paraíso, meu mundo.
É a carcaça de uma mulher.
As sobras sem alegrias
De alguém que amou, viveu a asté sofreu
Ao deixar...em suas mãos a vida
E nesta vida ficou tudo seu.

Marcia Telma

Umsonho... Uma realidade... Uma saudade


Ontem... Uma vida deserta, sombria e triste
Um mundo despovoado de sonhos e esperanças
Uma menina vazia, fútil, sem risos, sem graça
Sem carinho, sem amor, sem nada.

Hoje... você chegou...ficou e me amou
Você me deu tudo sem receber nada.
Hoje... uma vida de alegrias e de anseios
Uma vida com você... Uma vida para nós.

Amanhã... Amanhã restará uma saudade
De ter vivido sem ter sido nada, quando
se foi tudo. Uma saudade de não ter sido sua
E não sendo sua, deixei-o partir.

Depois... Distante talvez, restará em mim
a alegria dolorosa de ser embalada
com as mais doces canções. Crenças
no amor, em felicidades sem desavenças.
E compreender que para mim
Você não passou
De um sonho... Uma realidade... Uma saudade..
Marcia Telma



O MAIS SUAVE DOS CAMINHOS



Na subida íngreme do monte
Minha mão procurou a sua mão
Meu olhar buscou o seu olhar
E assim juntinhos, imaginei
Percorrer o mais suave dos caminhos.

Lá em cima contemplando a cidade
O rio, os montes, as matas verdejantes
O mundo se tornou outro mundo, e a vida
vazia, em poesia se transformou
Numa poesia só minha... só sua.

E tudo pareceu sublime e real
as coisas tornaram-se mais belas
vistas por mim e por você...por nós.
E na quietude embriagadora da amplidão
Amei as pedras, as folhas e os degraus
Corroídos de limo. Amei a vida.
Amei você...

Descemos assim juntinhos e enlaçados
Vimos o por do sol e este nos mostrou
Que a vida é outra vida
e os caminhos são mais suaves
Quando visto e percorridos a dois.

Marcia Telma


quarta-feira, 18 de agosto de 2010

VOCÊ DECIDE




Ela o amou quando era uma jovem entusiasmada universitária e ele um cavaleiro andante a trabalhar na construção de pontes e hidrelétricas por todo o país. Amor com poesia e com saudade... A distancia a afasta dele, que não resistiu aos momentos de solidão, preenchidas apenas por cartas de amor, que ela esperava com ansiedade. As cartas não preencheram o vazio da jovem universitária. Foram anos de separação, para que eles se buscassem e se encontrasse nas vésperas de sua formatura. O amor ainda era palpável e vibrante e ela decidiu que a alegria da vida social que levava não substituía o amor daquele homem romântico que a tratava como um bibelot. Resolveu então ir busca do que um dia, por inconseqüência juvenil, perdera.Deixar, sua carreira, sua família, sua vida social intensa e segui-lo, estrada à fora.O destino prega peças e faz um jogo em nossas vidas.Houve um desencontro.Não havia telefone na obra em que trabalhava...E ele não o encontrou no último endereço.A carta voltou.Ficou desesperada,em vão buscou os contatos, mas nada, tudo foi em vão...
Iniciou a vida profissional com sucesso. Fez-se respeitada, mas nas primeiras das suas férias, foi procurá-lo no Rio de Janeiro. A nordestina provinciana tomou um avião e cheia de fé e coragem seguiu em busca do amor perdido. Mas a viagem teve o sabor da derrota; o departamento de pessoal da empresa em que ele trabalhava só pode lhe dar uma informação:ele havia pedido demissão,e por conseguinte não poderia lhe dar o seu endereço.Normas da empresa. E agora? Só uma de suas cartas continha o endereço da sua família. E na caixa onde estavam guardadas, justamente esta, havia desaparecido.
Inconformada tentou viver e retomar sua vida. Casou, teve filhos e foi muito infeliz. Também pudera, vivia a vida numa ciranda sem canção, procurando vestígios desse amor perdido. o casamento não resistiu.Ela infeliz a procurar onde sabia existir uma obra na qual ele poderia estar trabalhando, procurava informações.Inútil... Precisava aceitar e tentar viver, tocar sua vida entre o trabalho, seus filhos, amores ocasionais e entre um cigarro e uma dose de gim tônica, a bebida com gosto de saudade.
Uma tarde chuvosa de agosto, o telefone ao lado de sua cama toca. Ela atende. E atônita ouve a voz. Aquela voz que havia procurado tanto... Ele se identifica, mas ela o reconheceria até numa noite escura, sem estrelas. Ouve, atenta, o que ele lhe repassa a saudade imensa que o acometeu todos esses anos.Um procura, sem querer ouvir,como estavam suas vidas.Ela diz estar só.Ele não.Doeu saber o inevitável.Diz para ele que o endereço é o mesmo da suas juventudes para que ele lhe envie uma poesia que fez, inspirado em uma das suas frases escritas nas velhas cartas de amor.
Os dias passam e com ansiedade abre o envelope e lê a poesia. Linda! Mas, atrás havia um lembrete: “cuidado ao responder, minha mulher pode ler”.Desilusão total...Incredulidade...Por que? Se está casado donde a saudade e esta procura?Não... Não deve ser assim... A vida deve seguir e nesse percurso descobre estar com câncer nas cordas vocais... Na peregrinação entre hospitais, tratamentos, muda o telefone. Não quer ser perturbada em sua dor por um homem comprometido. Mas ele a descobre e insiste. E vence o seu cansaço pela insistência e pelos e-mails inocentes.
Após sete anos ela resolve encontrá-lo.Uma cidade neutra, distante da sua, mas quando o vê,sente que o amor é o mesmo que sentia quando namoraram há 30 anos atrás.Trêmula e palpitante vai ao seu encontro.Mas a aliança está no seu dedo.o que este homem quer? Ele é feliz?As perguntas ficam presas na garganta e ela não ousa falar. Ouve... Só ouve... Fria e procurando manter-se distante. Até que ele a beija. Emocionada ela se descobre viva após tantos anos de solidão e capaz de sentir desejos guardados e esquecidos. Vive um final de semana de sonhos e fantasias onde puderam dar vazão a todos os seus desejos mais íntimos, apesar das dúvidas e da aliança que ele continua a usar.Uma provocação que ela não ousa revidar.O homem que a toma nos braços e a ama com intensidade como ela sonhava e fantasiava em suas poesias,está ali,palpável e é real.Ela ao seu lado tem medo de dormir para não perder o momento de felicidade.
Este homem que publica poesia na internet para ela, que a faz vibrar como acordes de uma sinfonia perfeita, este homem tem outra. E agora?
Com quem ele deve ficar?Com o amor que ele buscou e cultivou em silencio todos esses anos, ou persistir num casamento sem o sonho, a poesia, a inspiração, mas que o mantém preso em uma aliança que no fundo é uma algema de ouro?
E ela, como resolver no seu coração esse amor que a sua razão condena .O que fazer?Como dizer não a um amor que a despertou para a vida ela que se julgava morta? Como se afastar dos sonhos de uma vida?
E, agora, você decide...


Marcia Telma

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Volta



Fostes brilhar longe, longe...
Pra mim, tu te perdeste!
Criastes asas e partiu...
O dia ficou sem brilho, sem luz
Sem mais fogo e sem mais cor!
As manhãs não são mais as mesmas
Faltam os teus sorrisos, os teus abraços...
Hum, o teu perfume!
Então vem a tarde
e vejo que falta àquelas horas
de conversas jogadas fora...
Ai como era bom...
Vem também à noite,
E me vejo só com a solidão.
Fico louco ao pensar
Em teus beijos...
beijos de amor e paixão...
Toda a Noite, a noite toda...
E mais um dia também.
De repente sinto uma brisa que diz:
“Ela não volta, ela não vem!”.
Então mais um dia se repete
e eu aqui sozinho sempre a pensar
, as noites estão tão frias,
tão frios e tristes o luar.
É tu partiste...
Tudo está deserto,
silencioso, calmo e sem luz!
O grilo canta, o vento abala a vidraça!
Passa o vento, passa a noite, passa o dia,
A vida passa!
E na minha cabeça o que se passa?
O que fostes fazer tão longe,
tão longe de mim, tão longe de nós
Volta, tudo está morrendo
Eu sei que está morrendo
o meu, o seu, o nosso amor.

Ricardo Ramos
(estudante de Serviço Social)

domingo, 15 de agosto de 2010




Não me deixe ir, posso não mais voltar...
Não tente me contrariar, tenho palavras que machucam...
Não me decepcione, nem sempre consigo perdoar...
Não espere me perder para sentir minha falta.


(Clarice Lispector)

sábado, 14 de agosto de 2010



Fiquei nas pontas dos pés Para tentar ficar mais alta. Abri e fechei os braços imitando o bater de asas de uma borboleta. Fui repetindo simultaneamente estes dois movimentos ao som de uma leve música. Ao fazer isto, transformei-me em uma bailarina. Preciso confessar que foi bem assim que aprendi a voar. Desde então, desaprendi propositamente a andar.



(Helô Strega )



ADVERTENCIA

Olhe, meu amigo, por favor,
reflita bem e pense com carinho
no que eu quero lhe pedir:
Se você encara a vida
por outro prisma,
se as mulheres são copos descartáveis
e apenas preenchem bons momentos.
Se o amor é apenas uma questão
de atração física
que liga dois corpos
e depois um breve adeus
sem até logo ou até mais ver...
Procure ouvir o que vou dizer:
Eu não vivo de momentos.
Cada pessoa tem seu valor
sentimentos, afeto, dignidade.
Amor é encontro de espíritos
Afinidades e afeição.
Sexo é uma decorrência
O complemento ideal para o amor
Mas não é tudo.

Olhe meu amigo, atenção
Uma amizade tudo vale
Preenche a vida, enriquece...
E se pensamos diferentemente
Vamos ser amigos simplesmente.

Marcia Telma

quarta-feira, 11 de agosto de 2010



Se não era amor, era da mesma família. Pois sobrou o que sobra dos corações abandonados. A carência. A saudade. A mágoa. Um quase desespero, uma espécie de avião em queda que a gente sabe que vai se estabilizar, só não se sabe se vai ser antes ou depois de se chocar contra o solo. Eu bati a 200 km por hora e estou voltando á pé pra casa, avariada.

Eu sei,não precisa me dizer outra vez. Era uma diversão, uma paixonite, um jogo entre adultos. Telvez este seja o ponto. Talvez eu Não seja adulta o suficiente para brincar tão longe do meu patio, do meu quarto, das minhas bonecas. Onde é que eu estava com a cabeça, de acreditar em contos de fada, de achar que a gente muda o que sente, e que bastaria apertar um botão que as luzes apagariam e eu voltaria a minha vida satisfatória,sem seqüelas, sem registro de ocorrência? Eu não amei aquele cara. Eu tenho certeza que não. Eu amei a mim mesma naquela verdade inventada.

Não era amor,era uma sorte. Não era amor, era uma travessura. Não era amor, eram dois travesseiros. Não era amor, eram dois celulares desligados. Não era amor, era de tarde. Não era amor, era inverno. Não era amor, era sem medo. NÃO ERA AMOR, ERA MELHOR"

Martha Medeiros

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

PALAVRAS DE UMA MULHER APAIXONADA


Quero partir com o homem que amo.

Não quero pensar no que este amor custará.

Não quero perguntar se ajo insensatamente.

Não quero saber tampouco se ele me ama.

Quero partir com ohomem que amo.



Bertolt Brecht

Acerolas in sépia



A vida é tão engraçada que se não fosse trágica, seria cômica. E tem cores e sabores. A minha vida tem como cor principal o sépia. Nunca me imaginei dessa cor. Eu sempre me imaginei com cores vivas e vibrantes, mas ultimamente me descobri no sépia. Eu sempre gostei de ver as cores. Menina interiorana e ribeirinha aprendi desde cedo a conviver com cheiros diversificados e cores que jorram em profusão quando chega o inverno.E os sabores?Ah! Os sabores... Tem o sabor de acerola quando me acordo pela manhã, com o cheiro da terra molhada pela chuva, cheiro de fecundação, de vida; e vou para o quintal conversar com o pé de acerola. Com esse amor que ressurgiu tal como uma fênix e me rouba todos os pensamentos e viola os meus ouvidos com o eco de sua voz dentro de mim, tenho conversado pouco com a minha acerola. Também pudera! Passo a noite inebriada de prazer com os sonhos embriagadores e voluptuosos que dominam os meus sentidos. São coloridos os meus sonhos e se tornam pretos e brancos quando tenho pesadelos que me afastam do meu amado e dessa felicidade fictícia. Voltando a acerola, em conseqüência do meu distanciamento ela está zangada comigo: tem me dado poucas acerolas e me rouba o prazer de fazer o meu suco matinal com acerolas fresquinhas. E a sua história? Todas as árvores e plantas têm a sua história. Minha acerola que não é minha, plantei-a certo dia para minha mãe.Ela não a viu colocar os primeiros frutos e eu a reguei com as lágrimas da minha dor quando ela se foi.Passei então a conversar com o pé de acerola que traz a minha mãe nesse quintal.
A feira se estende desordenada pela rua, na frente da minha casa. Há o sabor agridoce dessa feira quando numa fusão de cores e sabores percorro as bancas dos vendedores de frutas e verduras. Do vermelho vibrante da manga ao verde brilhante da alface que se mescla com o verde musgo da couve. Sem falar no amarelo gostoso e cheiroso do maracujá, que desbanca as bananas da terra amarelinhas e com tons ferrosos ao lado das tangerinas cheirosas e suculentas. Isso sem falar nas pimentas olorosas que se misturam ao cheiro adocicado do abacaxi.
Pois não é,que todos esses cheiros se misturam ás ervas do homem da cobra?Chamo-o assim, porque para atrair compradores para suas meizinhas ele tem uma cobra .Uma cobra dentro de um baú.Cobra dócil e domesticada.Ao apregoar a sua pomada milagrosa de odor duvidoso e reunir uma multidão ao seu redor, ele faz um suspense e chama a cobra.Ela surge com meneios e ondulações e se enrosca sensual em seus pescoço.O suspense é grande e as mães agarram os filhos.É o encantador de serpentes.
É inebriante caminhar pela feira.As cores se sucedem e entontecem qualquer cristão com tantas cores ,sabores e odores.E a tapioca branquinha das mulheres do Fabo da Gata? Mas não chamem assim não...Rabo da GatA é ofensivo.O nome é Impoeiras...Sim,as tapiocas...Elas me trazem de volta á casa onde no jardim a roseira que plantei para minha mãe está repleta de rosas branquinhas e perfumosas.Olho-as com carinho e num pensamento mudo as envio para que ornem a janela no outro plano onde ela passou a habitar.As alamandas se multiplicam desordenadamente numa profusão de amarelo vibrante criando um contraste com o meu aveloz.
Mas a minha vida tem como cor principal o sépia. É tão clássico...Então recorro ao sépia para ilustrar meus textos e colorir minhas pinturas.Tem um ar de saudade e elegância...de um refinamento ímpar.E a minha casa que não é mais minha está se tornando da cor sépia.A chuva danificou as paredes brancas e deixou impressas as cores da saudade das pessoas que aqui viveram e deixaram suas marcas.Em sépia...Os retratos mudos que insistem em me olhar, estão ficando em sépia.Talvez porque os coloquei sobre o piano que é de mogno envelhecido e me lembra o sépia.O cheiro das teclas de marfim me remete às tardes prazerosas onde recebíamos as visitas com um recital de poesias ao som da música tocada pela minha mãe que aprendeu com a sua avó.Tudo isso está se diluindo no tempo e caindo na roda do esquecimento.
Resolvo então guardá-los em caixas perfumadas com cheiro de acerolas, mas as caixas são também em sépia.
A minha vida está em sépia?


Marcia Telma

domingo, 8 de agosto de 2010

VALE A PENA?



Uma vez na vida
vale a pena?
Só uma vez se é feliz!
Os bons momentos são raros
A frustração é grande
quando pinta a solidão.
A saudade maltrata, dói,
fininha como uma lagartixa
presa na parede.



Uma vez na vida,
vale a pena?


Os momentos fogem
como baratas assustadas
E o coração ficará vazio
ouvindo sons distantes
de um momento d’amor.

Uma vez na vida vale a pena
se não pensar na solidão,
no instante seguinte
no preço, no custo
de viver um momento
sem esperanças de um amanhã.
Marcia Telma

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

FÉRIAS DE AMOR?





No meio da noite, fico andando como um zumbi por uma casa vazia, cheirando a mofo, procurando fantasmas do passado para me fazer companhia. Pensamentos povoam minha mente e nessas divagações filosóficas fico a me perguntar:

- O amor tira férias? Temos férias para o amor?

É tudo tão simples... Tão lacônico... Estou de férias, volto dia 5. E eu?O que faço nessa casa vazia, triste e cheia de mistérios? Desassociar de mim as lembranças vívidas de dias maravilhosos, congelar as imagens e bloquear na memória os momentos de amor?



E aí? Esse amor congelado, desassociado e paralisado no tempo ficará de férias? Como estar de férias?


Tem férias quem estuda... Quando iniciei meus estudos as férias eram enormes. Dezembro, preparação para o Natal, Ano novo e logo vinha janeiro com a festa de Reis .Depois fevereiro com o carnaval.Acabavam as férias em março e logo vinha um intervalo, 40 dias após o carnaval, para a Semana Santa e depois mais três dias paras o micareme. Reiniciava as aulas. E logo chegava junho. São João. Quadrilhas, milho assado nas fogueiras, brincar de compadre e comadre.Ah! tinha as madrinhas de São João. Férias compridas como o friozinho de inverno que terminava no final de julho. Essas férias eu conheci e vivi intensamente os dias letivos. Aprendi o que os alunos hoje não aprendem com uma carga horária tão grande. Quando comecei a trabalhar tinha férias... A justiça gosta de férias...Aprendeu a morosidade nas velhas escolas...Recesso de Natal,Recesso da semana para o carnaval,recesso da semana santa, recesso junino.mais as férias normais de 30 dias que cada funcionário tem direito.nos outros trabalhos não:as férias duram 20 ou 30 dias.


Mas nunca vi férias de amor... O amor está cansado, trabalhou muito, precisa viajar para descansar, distrair, desestressar?Um amor que se buscou a vida inteira e mal se encontram já tira férias?


O meu amor é incansável, vibrante, intenso. Necessita de todo o tempo do mundo para sobreviver. O meu amor necessita do ar e da respiração ardente do meu amado e da sua presença. Sinto falta do calor da sua boca na minha e da sua barba roçando no meu queixo fazendo arranhões na minha pele. O meu amor necessita da presença, das cartas amorosas que não se enviam mais.


O meu amor não precisa de férias. Precisa de...

Marcia Telma

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Minhas recordações dos pés de jabuticaba


Vivi momentos bons, felizes e muitas vezes não sabia o valor daqueles momentos. Fiz uma viagem para Contagem em Minas Gerais. Casa de uma amiga de minha mãe, fazer um tratamento para parar de fumar.



A casa fica numa chácara no coração da cidade. Tem tudo... Amoras... Acerolas... Mamão... Morangos... Ameixas e jabuticabas.



Fiquei encantada com as jabuticabas. Não conhecia á arvore e fiquei deslumbrada com os pés de jabuticaba. Não consegui dormir, o meu corpo viciado pelo vício ansiava por mais um trago... Vagava insone pela casa querendo o meu cigarro.Só um... Mas eu havia decidido parar de fumar... Conscientemente tomei a decisão que mudaria minha vida. Mas que era difícil, isso era.




E aquela casa estranha, dominada pelo frio cortante das Minas Gerais me restringia. Não conseguia dormir e os canzarrões amestrados me impediam de cruzar os batentes e sair para o jardim. Estava limitada a ficar acordada insone e vazia,hóspede inquieta de um casal que dormia tranqüilos sem saber o quanto eu sofria e a inquietude que tomava conta de mim.



Quando os raios de sol venciam as nuvens tristonhas do final de inverno, corro para os pés de jabuticaba. Minha mãe aconselha: não coma tão rápido.Tenha calma...mas não posso aceitar o conselho.Com avidez vou recolhendo as jabuticabas no tronco da árvore e como todas,até me sentir repleta e feliz.


Pode alguém ser feliz ao comer jabuticabas no tronco, in natura?Eu pude... Nunca fui tão feliz como naquela chácara em Contagem, correndo em torno dos pés de jabuticaba, pisando na lama escura, negra que elas espalhavam no chão e querendo mais. Apanhava jabuticabas para levar aos cágados ( havia um tanque cheio deles) e voltava a comer...Em vão minha mãe me ensinava os bons modos de não me empanturrar...O que vão pensar? Nunca procurei saber...



Hoje, penso com ternura naqueles momentos. Eu e minha mãe, na casa de Ivalda e Nick, comendo jabuticabas,partilhando momentos únicos de felicidade e desejando ter um dia um cantinho para morar com um pé de jabuticaba.basta um...Onde o plantarei, não sei.A casa vai ser vendida.para onde vou não tem jardim,não tem quintal.



Preciso de um espaço para o meu mundo simples que se resume em saborear jabuticabas no tronco e me lambuzar na lama pegajosa que elas deixam quando caem no chão.


Marcia Telma

segunda-feira, 2 de agosto de 2010


Nunca fui como todos
Nunca tive muitos amigos
Nunca fui favorita
Nunca fui o que meus pais queriam
Nunca tive alguém que amasse
Mas tive somente a mim
A minha absoluta verdade
Meu verdadeiro pensamento
O meu conforto nas horas de sofrimento
não vivo sozinha porque gosto
e sim porque aprendi a ser só."

Florbela Espanca

MEU MUNDO ENCANTADO


Vens...
Vamos passear
nessa girândola louca
De poesia.
Vens... Dá-me tua mão
e eu te levarei
para lugares lindos
onde ninguém penetrou.

Vamos... Vamos
correndo de mãos dadas
passear pelos telhados
subir pelos arranha-céus
e descer pelas favelas.
Sinta a agradável sensação
neste estranho tobagã.

Vens...Não penses
vamos voar ...voar...
E eu te darei estrelas
que pegarei com a mão...
E salpicarei no teu rosto
O pó de pirlim-pimpim.
Vamos ver o mundo
deitados em nuvens cor de rosa.

Depois...
Aterrisaremos sob os coqueiros
e correremos pela areia.
Corra...
Apostemos corrida
eu dou-te um beijo.
Vens...
Não desanimes
os minutos se escoam
e tu irás logo
para o teu mundo triste.

Vens..,
Conheça o meu reinado
É lindo...
Eu dou-te todo:
Os telhados, as nuvens rosadas,
as areias, as ondas brancas.
As ruas desertas, as árvores...
Dou-te tudo
Guarda a recordação
de uma noite encantada.

Mas...falta algo
vejamos...
O que falta?
Ah! Vamos
saltitar pelas ruas
abraçados...
E eu mostrarei o meu poder
sobre as crianças dormindo,
Os homens, a paz, a ternura.

Sabes?
As vitrines são minhas
e eu sou dona
de toda a cidade adormecida.
Tu ris? Por que?
Então não conheces a vida
Esta loucura boa.

Vens...não pares
Há outras coisas para ver
Agora...
Vamos andar no carrossel
eu ando no corcel
ouvindo música de Listz.
Vamos girar na roda gigante
Correr em velocidade supersônica
Nos carrinhos coloridos.


Vens...falta ainda
o trem fantasma!
Ah! Tivestes medo?
Então eu te darei
uma coca-cola
com gosto de baunilha.
E ao som patético de Beethoven
Te levarei para a cama.

Tchau...adeus...
Corro para não perder
o sol que nasce
e a noite que finda.
As estrelas fogem
e o meu reino acaba-se
Tchau... vou correr
Correr...Correr..

Marcia Thelma

domingo, 1 de agosto de 2010

Posso tomar o meu vinho?


De repente eu vejo no espelho os fios brancos que marcam o início de uma nova etapa em minha vida. Bem... Não foi de repente assim... “Comecei “a ouvir a frase dos amigos de meu filho” Sua mãe parece uma jovem”. Parece? Mas eu sou... Depois na feira, os vendedores me chamavam de tia. Tia, eu ,daqueles rapagões? Eu sou jovem. Sou? Ainda posso correr na chuva sem ser considerada ridícula? Ou posso andar pelas ruas chutando pedrinhas?
É preciso aceitar as evidencias que já não sou tão jovem assim. Passei uns dias mergulhada em sombrios pensamentos melancólicos, buscando uma solução, uma aceitação de mim mesma.

Não quero ser um Dorian Gray, nem beber o Elixir da Longa Vida, e muito menos viver correndo em busca da juventude perdida. Quero ser eu...Simplesmente fazendo as coisas se me sentir presa cronologicamente.. Gosto de me vestir bem,de me arrumar,cuidar dos meus cabelos e da minha pele com discrição, de controlar o meu peso mas sem privar-me de comer o que gosto pois não viso ter um corpinho de bailarina espanhola.Quero me amar e ser amada como sou; com alguns quilos além da tabela, meus cabelos que estão a ficar brancos e as rugas que insistem em aparecer.Dentro de mim o meu espírito é jovem e saudável.E é com este espírito jovem que quero viver e lutar a cada dia pelo meu presente e pelos meus sonhos.

Procurei beber o vinho da minha juventude com intensidade e sofreguidão,gota à gota...Aprendi a abrir mão de certas coisas e trocá-las por outras.Erros e acertos...grandes decisões.Grandes paixões.
Arrependimentos, só do que deixei de fazer. Loucuras muitas...O tempo corre rápido.Sobreviver é uma arte e comecei a aprender com a ansiedade imperturbável dos moços que se consideram donos do mundo e do seu próprio destino e assim sendo tudo está ao seu favor.Tinha tudo e não aproveitei quase nada.

Hoje, com a minha alma jovem, ainda sinto arroubos da juventude que se escoa, com a sabedoria conquistada através da liberdade adquirida por um preço muito alto, me vem a sensação de que a minha segurança é ter imposto limites no meu auto-conhecimento e adquirido uma compreensão da vida dia após dia.

Continuo acreditando nos meus sonhos de deixar o mundo um pouco melhor:quero adotar todos os filhos que a vida me negou,quero estudar e escrever muito, viajar, conhecer pessoas.Quero fazer tudo o que sempre fiz,mas com tranqüilidade, ressaltando minhas qualidades e corrigindo meus defeitos e o que não fiz ainda, começar a fazer.

Quero ser eu... Sem máscaras... Sem maquilagem... Sem retoques.Quero beber o vinho amadurecido da minha vida sem medo de ficar velha. Afinal com tantos planos e com tanta vitalidade, como vou envelhecer?

Vamos tomar um vinho?



Marcia Thelma