Ela o amou quando era uma jovem entusiasmada universitária e ele um cavaleiro andante a trabalhar na construção de pontes e hidrelétricas por todo o país. Amor com poesia e com saudade... A distancia a afasta dele, que não resistiu aos momentos de solidão, preenchidas apenas por cartas de amor, que ela esperava com ansiedade. As cartas não preencheram o vazio da jovem universitária. Foram anos de separação, para que eles se buscassem e se encontrasse nas vésperas de sua formatura. O amor ainda era palpável e vibrante e ela decidiu que a alegria da vida social que levava não substituía o amor daquele homem romântico que a tratava como um bibelot. Resolveu então ir busca do que um dia, por inconseqüência juvenil, perdera.Deixar, sua carreira, sua família, sua vida social intensa e segui-lo, estrada à fora.O destino prega peças e faz um jogo em nossas vidas.Houve um desencontro.Não havia telefone na obra em que trabalhava...E ele não o encontrou no último endereço.A carta voltou.Ficou desesperada,em vão buscou os contatos, mas nada, tudo foi em vão...
Iniciou a vida profissional com sucesso. Fez-se respeitada, mas nas primeiras das suas férias, foi procurá-lo no Rio de Janeiro. A nordestina provinciana tomou um avião e cheia de fé e coragem seguiu em busca do amor perdido. Mas a viagem teve o sabor da derrota; o departamento de pessoal da empresa em que ele trabalhava só pode lhe dar uma informação:ele havia pedido demissão,e por conseguinte não poderia lhe dar o seu endereço.Normas da empresa. E agora? Só uma de suas cartas continha o endereço da sua família. E na caixa onde estavam guardadas, justamente esta, havia desaparecido.
Inconformada tentou viver e retomar sua vida. Casou, teve filhos e foi muito infeliz. Também pudera, vivia a vida numa ciranda sem canção, procurando vestígios desse amor perdido. o casamento não resistiu.Ela infeliz a procurar onde sabia existir uma obra na qual ele poderia estar trabalhando, procurava informações.Inútil... Precisava aceitar e tentar viver, tocar sua vida entre o trabalho, seus filhos, amores ocasionais e entre um cigarro e uma dose de gim tônica, a bebida com gosto de saudade.
Uma tarde chuvosa de agosto, o telefone ao lado de sua cama toca. Ela atende. E atônita ouve a voz. Aquela voz que havia procurado tanto... Ele se identifica, mas ela o reconheceria até numa noite escura, sem estrelas. Ouve, atenta, o que ele lhe repassa a saudade imensa que o acometeu todos esses anos.Um procura, sem querer ouvir,como estavam suas vidas.Ela diz estar só.Ele não.Doeu saber o inevitável.Diz para ele que o endereço é o mesmo da suas juventudes para que ele lhe envie uma poesia que fez, inspirado em uma das suas frases escritas nas velhas cartas de amor.
Os dias passam e com ansiedade abre o envelope e lê a poesia. Linda! Mas, atrás havia um lembrete: “cuidado ao responder, minha mulher pode ler”.Desilusão total...Incredulidade...Por que? Se está casado donde a saudade e esta procura?Não... Não deve ser assim... A vida deve seguir e nesse percurso descobre estar com câncer nas cordas vocais... Na peregrinação entre hospitais, tratamentos, muda o telefone. Não quer ser perturbada em sua dor por um homem comprometido. Mas ele a descobre e insiste. E vence o seu cansaço pela insistência e pelos e-mails inocentes.
Após sete anos ela resolve encontrá-lo.Uma cidade neutra, distante da sua, mas quando o vê,sente que o amor é o mesmo que sentia quando namoraram há 30 anos atrás.Trêmula e palpitante vai ao seu encontro.Mas a aliança está no seu dedo.o que este homem quer? Ele é feliz?As perguntas ficam presas na garganta e ela não ousa falar. Ouve... Só ouve... Fria e procurando manter-se distante. Até que ele a beija. Emocionada ela se descobre viva após tantos anos de solidão e capaz de sentir desejos guardados e esquecidos. Vive um final de semana de sonhos e fantasias onde puderam dar vazão a todos os seus desejos mais íntimos, apesar das dúvidas e da aliança que ele continua a usar.Uma provocação que ela não ousa revidar.O homem que a toma nos braços e a ama com intensidade como ela sonhava e fantasiava em suas poesias,está ali,palpável e é real.Ela ao seu lado tem medo de dormir para não perder o momento de felicidade.
Este homem que publica poesia na internet para ela, que a faz vibrar como acordes de uma sinfonia perfeita, este homem tem outra. E agora?
Com quem ele deve ficar?Com o amor que ele buscou e cultivou em silencio todos esses anos, ou persistir num casamento sem o sonho, a poesia, a inspiração, mas que o mantém preso em uma aliança que no fundo é uma algema de ouro?
E ela, como resolver no seu coração esse amor que a sua razão condena .O que fazer?Como dizer não a um amor que a despertou para a vida ela que se julgava morta? Como se afastar dos sonhos de uma vida?
E, agora, você decide...
Marcia Telma