domingo, 1 de agosto de 2010

Posso tomar o meu vinho?


De repente eu vejo no espelho os fios brancos que marcam o início de uma nova etapa em minha vida. Bem... Não foi de repente assim... “Comecei “a ouvir a frase dos amigos de meu filho” Sua mãe parece uma jovem”. Parece? Mas eu sou... Depois na feira, os vendedores me chamavam de tia. Tia, eu ,daqueles rapagões? Eu sou jovem. Sou? Ainda posso correr na chuva sem ser considerada ridícula? Ou posso andar pelas ruas chutando pedrinhas?
É preciso aceitar as evidencias que já não sou tão jovem assim. Passei uns dias mergulhada em sombrios pensamentos melancólicos, buscando uma solução, uma aceitação de mim mesma.

Não quero ser um Dorian Gray, nem beber o Elixir da Longa Vida, e muito menos viver correndo em busca da juventude perdida. Quero ser eu...Simplesmente fazendo as coisas se me sentir presa cronologicamente.. Gosto de me vestir bem,de me arrumar,cuidar dos meus cabelos e da minha pele com discrição, de controlar o meu peso mas sem privar-me de comer o que gosto pois não viso ter um corpinho de bailarina espanhola.Quero me amar e ser amada como sou; com alguns quilos além da tabela, meus cabelos que estão a ficar brancos e as rugas que insistem em aparecer.Dentro de mim o meu espírito é jovem e saudável.E é com este espírito jovem que quero viver e lutar a cada dia pelo meu presente e pelos meus sonhos.

Procurei beber o vinho da minha juventude com intensidade e sofreguidão,gota à gota...Aprendi a abrir mão de certas coisas e trocá-las por outras.Erros e acertos...grandes decisões.Grandes paixões.
Arrependimentos, só do que deixei de fazer. Loucuras muitas...O tempo corre rápido.Sobreviver é uma arte e comecei a aprender com a ansiedade imperturbável dos moços que se consideram donos do mundo e do seu próprio destino e assim sendo tudo está ao seu favor.Tinha tudo e não aproveitei quase nada.

Hoje, com a minha alma jovem, ainda sinto arroubos da juventude que se escoa, com a sabedoria conquistada através da liberdade adquirida por um preço muito alto, me vem a sensação de que a minha segurança é ter imposto limites no meu auto-conhecimento e adquirido uma compreensão da vida dia após dia.

Continuo acreditando nos meus sonhos de deixar o mundo um pouco melhor:quero adotar todos os filhos que a vida me negou,quero estudar e escrever muito, viajar, conhecer pessoas.Quero fazer tudo o que sempre fiz,mas com tranqüilidade, ressaltando minhas qualidades e corrigindo meus defeitos e o que não fiz ainda, começar a fazer.

Quero ser eu... Sem máscaras... Sem maquilagem... Sem retoques.Quero beber o vinho amadurecido da minha vida sem medo de ficar velha. Afinal com tantos planos e com tanta vitalidade, como vou envelhecer?

Vamos tomar um vinho?



Marcia Thelma

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