Eu nasci um filete d’água
nas montanhas esplendorosas
das Minas Gerais.
Deram-me o nome do santo
padroeiro da natureza e dos animais,
e por São Francisco fiquei.
Desafiando a gravidade
subi o Brasil rumo ao nordeste
região pobre do meu país.
Passei por locais desconhecidos
altas pedreiras, corredeiras profundas
sofri o impacto de desabar
dos rochedos em cascatas,
formando um cenário
de rara beleza...
Eu vi coisas de assombrar...
e coisas que gosto de relembrar...
os índios Urumaris nas noites de luar
me viam como um espelho de prata
para Jaci ( lua ) admirar.
Assim nasceu Jaciobá
cantado e decantado pelos poetas,
que os portugueses denominaram
de Pão de Açúcar ,
cidade branca dos mil amores.
Com tristeza eu vi e pranteei
a luta dos Xokós
expulsando os Urumaris.
Lampião e Maria Bonita vinham
em minhas águas se banhar.
E os casais de namorados
que rolavam nas noites escuras
em minhas areias ardentes do sol ?
meninos eu vi tanta coisa
que dá tristeza lembrar.
Havia os grandes navios
O Peixoto e o Peixotinho
e o famoso Moxotó
que naufragou lá na ilha.
Havia as canoas de tolda
que deslizavam a vagar.
Havia os barcos de pesca
com seus pescadores a remar.
De repente o progresso
veio comigo implicar.
Surgiram as fábricas, as represas,
e captaram minhas águas,
para as terras irrigar.
Os esgotos e a sujeira
vieram em mim desaguar
e os meus peixes, que horror!
começaram a sofrer
dos camarões nem lhes falo
pois não puderam viver.
Hoje vivo de memórias
de um passado rico e nobre
pois nem a lua Jaci
vem em mim se mirar.
E os amantes, coitados
em meio à poluição
procuraram outro lugar.
Esta é a triste história
de um rio que se chamou
São Francisco
e hoje é conhecido
apenas como velho Chico.
E você que está aí
o que se propõe a fazer
que se perderam no mar.
para salvar este irmão
que sofre e chora cansado
o pranto de suas águas
Nenhum comentário:
Postar um comentário